terça-feira, 6 de março de 2012

Um pecador é racionalmente capaz de se mover em direção a Deus?

Um pecador é racionalmente capaz de se

mover em direção a Deus?


Essa é a questão nevrálgica para o arminianismo e calvinismo. Para o primeiro, o pecado não incapacitou o homem a ponto de ele não poder discernir entre a verdade e a mentira. Por isso sempre que Deus apela para o bom senso do pecador dizendo que ele se arrependa. Para o calvinismo, o pecado atingiu de forma tal que qualquer decisão espiritual do homem é impossível. Sendo o apelo de Deus um estimulo aos que Ele capacitou para o arrependimento.Não podemos resolver essa questão sem a Bíblia. Invocar os Símbolos de Fé, ou os Pais da Igreja, Reformadores e Teólogos Reformados, só adiará a solução da questão. É na Escritura, e os limites lógicos subentendidos nela, que devem ser o nosso cânon doutrinário.Vamos começar considerando o pressuposto acima:

Escolher Deus é uma decisão natural ou espiritual? Isto é, um pecador pode simplesmente ler na Bíblia que ele deve arrepender-se, e ele, “naturalmente”, julgará as questões e resolverá se sim, ou, se não?

A Bíblia diz: 
“... ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo.” (1 Co 12.3 ACF). 

No entanto, Jesus disse: 

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus...” (Mt 7.21).

Queira ou não, temos um paradoxo. 

Se os que vão para o inferno falam “Senhor Senhor” falam por si mesmos ou pelo Espírito?

Veja as pessoas falam “Senhor Jesus” por qual motivação? Boa? Então, só pode ser pelo Espírito Santo. 
Se não, eles não estão enquadrados no que Jesus disse:

“... o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” (Jo 6.37). 

Interessante que os que falam “Senhor Senhor”, sem ser pelo Espírito do Pai, Jesus dirá: “...apartai-vos de mim..”(Mt 7.23). Uma maneira prática de ‘lançar fora’.

A aceitação verdadeira do Evangelho não é uma simples escolha religiosa. Pode parecer, mas não é. Receber o Evangelho, que é o poder de Deus, envolve na verdade o deixar de ser das trevas, deixar de ser filho do diabo, inimigo de Deus, blasfemador por essência.
Acredita mesmo, que o homem pode deixar desse estado por decisão pessoal sem a interferência de Deus? Irmão Arminiano, infelizmente, ou felizmente, a Bíblia diz que não (Ef 2.1-6).

O PECADO ATINGIU A CAPACIDADE VOLITIVA, NÃO A RACIONAL:


Esse tema pode ser muito espinhoso, visto que algumas nuanças disso podem ser mal interpretadas, e alguns poderão me chamar de arminiano (ou tomista/ escolástico). Mas minha leitura da Bíblia me leva dizer isso. Dependendo do quanto a graça de Deus influenciou uma pessoa, a sua família, ou o país; e se você disser a um adúltero que sua vida é pecaminosa ele concordará que sim. Entendo que o pecado destruiu a capacidade espiritual do homem em se render a Deus como autoridade sobre sua vida, fazendo-o deixar de amar o pecado. Ou seja, ele pode ver, pela razão, que está errado. Quer pela luz do Evangelho, ou pela luz da consciência. Mas desse ponto, ele ir em direção a Deus, da maneira correta, somente o Espírito pode fazer isso no eleito. A bem da verdade, até esse entender, é da mesma natureza do dizer “Senhor”, que Cristo rejeita. Não é da maneira que Deus quer. Pois quando um homem entende corretamente, ele busca a Deus.

Mas o que quero deixar claro é que a capacidade de entender a letra do Evangelho e até em aceitá-lo, não pode ser confundido com a percepção da alma. Somente Deus pode destruir as fortalezas da alma pecadora, e conduzi-lo a Cristo. Lídia ouvia o que Paulo falava, mas foi o Senhor que abriu o coração dela (a fonte das motivações, da vontade) para atentar ao que estava sendo ensinado (At 16.14).

O homem é deixado em sua vontade pecadora. Essa vontade não é violentada, mas transformada quando o Espírito de Deus age.
Então podemos dizer que o calvinismo é bíblico neste ponto? Bem, podemos dizer que sim. A tentativa de enfraquecer a verdade bíblica é um esforço inútil. A Palavra de Deus ao tratar dos judeus (Romanos 3.1-6)[obviamente o povo que melhor conheceu a Deus] garante que nem eles “buscam a Deus” !!!

MAS SE DEUS NÃO IRÁ COLOCAR EM UMA PESSOA DISPOSIÇÃO PARA ARREPENDER-SE, POR QUE DEUS PEDE PARA ELE FAZER ISSO?


Podemos propor duas sugestões para essa objeção.
Lembrando que a resposta da Bíblia é final para esse tipo de questionamento
Veja: Rm 9.19,20.

1º) A Evangelização é exposição da salvação por meio de Cristo. Deus alcança os eleitos por meio do uso ordinário da Igreja em sua tarefa evangelística. Ele decidiu que para os eleitos essa mensagem seria o meio de salvá-los. E aos não eleitos, um ‘meio’ de condená-los: “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para a vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Co 2.15,16).

Se, somos o ‘bom perfume de Cristo’ para ambos os grupos, como seremos cheiro de morte? Visto que Jesus disse que não veio condenar, visto que ele mesmo disse que suas palavras são ‘espírito e vida’. Como essa mensagem produz morte? É pela rejeição dos incrédulos. E eles rejeitam por quê? Por causa de sua natureza. A Bíblia diz que os que crê no evangelho são os que foram ‘destinados para a vida eterna’ (At 13.48). Só cremos se Deus nos conceder essa graça (Fl 1.29).

Nesse ponto, lembramos da proposta de Vincent Cheung: Deus não oferece o Evangelho para os que não são eleitos. A Pregação ordinária da Igreja, muitas vezes atrai os repóbros. 

Jesus disse que isso ia acontecer (Mt 13.36-43; 47-50). Observe bem que na Igreja (nesse caso o reino dos céus), é Cristo que planta a boa semente e o diabo planta o joio, isto é, os repóbros. Não ouve inversão genética dessa semente: Uma boa semente se torna má, e uma má se torna boa. Eles chegam definidos. No segundo caso, na pesca, que na verdade é uma versão da parábola do joio, fica bem claro que os peixes maus são pegos na rede. Mas eles não foram mudados. Assim, creio que a Evangelização é a proclamação da soberania de Cristo onde exige aos ouvintes que se submetam. O que não foi eleito desobedecerá, para confirmação de sua natureza má, para si mesmo, no último dia.

2º) A vontade do preceito, do prazer e do decreto. Existem graus de qualificações na vontade divina. Quando Deus diz que o homem não deve mentir, e o homem mente, a vontade de Deus não foi feita. Pois essa é a vontade do preceito. Não é sobre essa vontade que a Palavra diz que ‘ninguém jamais resistiu a sua vontade’(Rm 9.19). Muito menos quando ele diz: “... farei toda a minha vontade.” (Is 46.10).

A vontade do prazer também pode ser resistida, sendo que Ele quis muitas vezes agregar Jerusalém, mas eles não quiseram (Mt 23.37). Podemos usar uma comparação: Um patrão exige que os funcionários de sua empresa usem uma camisa verde como uniforme, porém a calça, embora prefira o jeans, ele não exige qual.

Pergunto: 
A salvação humana é um preceito de Deus ou um decreto? 

No geral vemos um convite perceptível e/ou do prazer de Deus, dizendo ao homem que se arrependa. Mas locomover-se para esse convite está apenas, e tão somente, dentro do decreto divino que ‘força’ o ímpio querer a Deus.
Jesus disse: 
“...ninguém pode vir a mim se o Pai não o trouxer” (João 6.44). 

Quando esse arrastar é feito, houve uma mudança monergista na disposição da alma, daí ele passa a querer a Deus. E sobre esses, Jesus disse: ‘o que vem a mim de modo nenhum o lançarei fora’! Visto que Jesus lançou o maldito Judas fora, ele não foi dado a Cristo pelo Pai. Jesus o escolheu para o fim ‘decretado’.

Nessa questão, pela natureza do pecado, sendo necessária uma mudança drástica o prazer e o preceito de Deus não seriam correspondidos. Deve haver o decreto, que segundo a linguagem bíblica afirma:

"E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade..." Ef 1.5